Aristides de Sousa Mendes: Justo entre as Nações (50 anos)


   Foi pela pressão das comunidades israelitas, em Portugal e nos EUA, junto das altas instâncias judaicas, americanas e portuguesas, que se recuperou a memória de um cônsul remetido ao esquecimento. Um homem que deliberadamente colocou em risco a sua carreira e a sua vida ao desobedecer a ordens directas do Governo salazarista, em plena Segunda Guerra Mundial. O cônsul assinou 30 mil vistos a refugiados, judeus ou não, que vinham fugidos da morte certa — da guerra ou dos campos de concentração.
   14 de Junho de 1940: Paris é ocupada pelas tropas nazis, e o Governo transfere-se para Bordéus, onde trabalhava o cônsul Aristides de Sousa Mendes. Milhares de pessoas deslocam-se para sul. A França ainda era livre. Três dias depois, os franceses assinam a rendição à Alemanha nazi. Sousa Mendes toma em mãos a missão de tentar salvar tantos refugiados quanto possível, indo contra as ordens da circular n.º14, emitida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Lisboa.
   Entre 17 e 20 de Junho de 1940, Sousa Mendes trabalhou sem pausas, apoiado por um rabi polaco, Chaim Hersz Kruger, e os milhares de vistos que assinou serviriam para garantir uma passagem segura para Portugal, e de Portugal para qualquer outro porto seguro. Quando os refugiados saídos de Bordéus chegavam a Hendaia (na fronteira franco-espanhola), davam de caras com uma fronteira fechada e autoridades que invalidavam os seus vistos. A informação da insubordinação de Sousa Mendes chegara a Lisboa e com isso tinha sido revogada a posição de cônsul. Então, o diplomata acompanhou os refugiados até Biriatu, um pouco mais para leste, uma fronteira terrestre menos conhecida e mais isolada, onde ainda não havia chegado a informação da desobediência do cônsul. A acção de salvamento duraria mais seis dias, até 25 de Junho.
   Pelas suas acções, Sousa Mendes foi condenado por Salazar a uma vida de miséria. Perdeu o trabalho, não se pode reformar, nem encontrar outro trabalho. Perdeu a Casa do Passal, em Cabanas de Viriato. Os seus filhos foram proibidos de ingressar no ensino superior. O único apoio que a família Sousa Mendes teve foi das comunidades judaicas, que ajudaram alguns dos seus filhos a partirem para os EUA e o Canadá. O cônsul morreu em 1954, vítima de múltiplos AVC, remetido ao esquecimento.

   O cônsul foi reconhecido como “Justo entre as Nações” pelo Estado de Israel. Este título honorífico é atribuído às pessoas não judias que usaram “a sua vida, liberdade, ou estatuto” para salvar uma ou mais vidas judias durante o Holocausto. Há mais de 25 mil “justos entre as nações” dos quais três são portugueses. Aristides de Sousa Mendes foi o primeiro a receber o título, postumamente, em 1966. Mas só 20 anos após a atribuição deste título é que o governo português reconheceu oficialmente as acções do cônsul. Foi apresentado um pedido de desculpas à família Sousa Mendes e Aristides recebeu o estatuto de embaixador e a medalha da Ordem da Liberdade.
   Em memória de Aristides decorreu ontem uma celebração dupla. A Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, onde Aristides passou grande parte da sua vida e tinha a sua casa familiar, celebrou 16 anos como Fundação Aristides de Sousa Mendes. E em Nova Iorque foi inaugurada a exposição Portugal, a última esperança: os vistos para a liberdade de Sousa Mendes.
   No ano em que se cumpre meio século sobre a atribuição do título de “Justo entre as Nações", a Federação Sefardita Americana, em colaboração com a Sousa Mendes Foundation, organizou a mostra, no Centro para a História Judaica, incluindo imagens e documentos inéditos.
   A Sousa Mendes Foundation, com sede na mesma cidade americana, foi criada em 2010 por descendentes do diplomata e dos beneficiários dos vistos que passou em Junho de 1940.

   Esta é uma figura da história que admiro imenso e por isso não poderia deixar de partilhar este magnífico texto convosco, tendo em conta este aniversário tão especial. 

Informações retiradas de Publico.pt; Imagens retiradas de Vidas Poupadas.

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